domingo, 7 de julho de 2013

CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA NA VISÃO DE EMILIA FERREIRO E O RESGATE EMPÍRICO DE UMA SALA DE APOIO 3º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL





CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA NA VISÃO DE EMILIA FERREIRO E O RESGATE EMPÍRICO DE UMA SALA DE APOIO 3º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
ATUALIZANDO A PESQUISA E A PRÁTICA

Para que serve segmentar a fala?-pergunta Emilia Ferrero. Ao pedir chocolate a sua mãe, a criança grita: CHO-CO-LA-TE, em situações de oralidade. Isso é próprio da criança, não precisa ser ensinado. Da mesma forma, uma professora quando chama a atenção do seu aluno ou aluna, para enfatizar a repreensão, segmenta:
__MA-RI-A DA -SIL-VA, sente-se em seu lugar!
Na última sexta-feira, ao ensinar uma criança que veio de uma sala de aula regular para a SAP (Sala de Apoio pedagógico) com problemas na sua base alfabética (silábico com valor sonoro), eu estava trabalhando ortografia: X ou CH.
O contexto que se dá é: o texto no livro didático de Língua Portuguesa, que não pode ser usado porque havia poucos alunos, a música (texto de memória), “Caranguejo não é peixe” e a escrita imperfeita da palavra chave, “xave”.
Pois bem, peço aos alunos que me digam duas listas de palavras: uma com x e outra com ch. Trabalhamos com poucas palavras, para não cansar demais.
O aluno me deu a palavra: XERIFE. Construí na lousa com as crianças a lista de palavras e chamei-o para ler a palavra que tínhamos construído, pontuando os pedaços sonoros da palavra, inicialmente e depois lendo a palavra sem silabar.
Ele, a quem chamarei de Guto, para preservar a sua identidade, leu a palavra pontuando as letras da palavra, letra, por letra, e deu-se um conflito no mesmo: porque x para XE, e para RI e r para FE, ficou mais conflituoso, porque se a escrita fosse realizada por ele, apagaria o restante das letras, já que buscou acomodar cada som vocálico a uma letra, o que oscilaria ele novamente para a hipótese silábica sem valor, porque r para FE não corresponde.
   XERIFE

XERIFE
Percebi que era o momento de intervir: peguei um giz colorido e expliquei a ele novamente que as sílabas, pedacinhos sonoros das palavras, se constroem com quantidades de letras e naquele caso, usamos duas letras para cada sílaba.
Fiz um aporte fônico, enfatizando o som de casa sílaba, e demonstrando qual a parte do nosso aparelho vocálico usamos para pronunciar as sílabas: x um som emitido entre os dentes, rrr, o som com a língua apoiada no céu da boca, fff, o som com os dentes apoiados nos lábios.
(Cagliari  (Alfabetizando sem o bá-bé-bi-bó-bu, 1999) considera pedante um ensino dessa forma, mas não há outra maneira de ensinar e as crianças se divertem, porque ao se exagerar as pronúncias das letras, nossas expressões faciais ficam bem interessantes.)
Com o giz colorido, pontuei corretamente as sílabas da palavra e pedi a ele que lesse, apontando com o dedo cada pedacinho sonoro. Ele ficou feliz, porque o seu conflito tinha sido resolvido e conseguiu ler as outras palavras ditadas por outras crianças.
Já tinha sido mostrado a mim,pela Coordenação,  a dificuldade dessa criança, que na escrita, como silábico alfabético, insiste na sua zona de conforto que é a leitura com o nível silábico com valor sonoro. E foi por essa leitura e sua dificuldade de estruturar uma frase numa produção de texto que foi remanejado.
Não pude, entretanto, mantê-lo silábico com valor sonoro, porque Guto já realizou muitas descobertas, e para uma lista de palavras no campo semântico, ele escreveu assim:
MOTAELA       MORTADELA
PESUNTO      PRESUNTO
QUEGO       QUEIJO
PONÂO       PÃO
OMININOKMEUQUEGO.
O MENINO COMEU QUEIJO
Se pedir a ele que lê essa construção, provavelmente, agora pontuará as sílabas e não as letras. Se entendi bem o que Ferreiro e Weisz quis questionar nesse diálogo, talvez tenha dado a resposta.
A consciência fonológica é importante para as crianças no processo de alfabetização, sim, mas não resolve o problema de todas.
Tenho ainda dois alunos que estão no silábico com valor sonoro há mais de um ano e que acreditam ser essa a forma correta de escrever, que quem escreve errado são os pares e eu.
Métodos construtivistas e interacionistas, silabação, fonetização, material concreto e lúdico, figuras, recortes, cruzadinhas, todo o tipo de estimulação pedagógica que eu conheço já foram utilizados e mesmo de férias, estou garimpando uma forma de mediatizar o acesso dessas crianças a mundo alfabético e letrado.
Pois, como diz Rogers (2010):
“ A compreensão do outro, profunda e autêntica constitui um elemento a mais que contribui para criar um clima próprio para a auto-aprendizagem fundada sobre a experiência quando aquele que ensina é capaz de compreender as reações do estudante no seu íntimo, de perceber a maneira como nele repercute o processo pedagógico (p.18)”
Sobre a insistência dos alunos em manter-se estagnados na sua hipótese, Rogers (2010), assim se posiciona:
“ A  aprendizagem que implica uma modificação da própria organização pessoal_ da percepção de si _ representa uma ameaça e o aluno tende a resistir a ela (p.21”).
Esses alunos só estarão aptos a modificar sua hipótese quando para eles isso for plausível e interessante , que descubram estarem errados.
Agradecendo em nome dos educadores que posso ter a humildade de representar as duas elegantes senhoras, Telma Weisz e Emília Ferreiro, toda a contribuição que fizeram para a Educação brasileira, da descoberta sobre os níveis de alfabetização das crianças, da preocupação em inserir o letramento paralelo a Alfabetização, peço que reconsiderem algumas aspas em seu discurso e permitam aos senhores professores inserirem a consciência fonológica em sala de aula como um recurso, pois o próprio professor ou professora, é um recurso vivo e atuante.












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